A Chaparral talvez não seja uma das marcas mais conhecidas dos Estados Unidos. Teve tentativas fracassadas de vencer o Mundial de Resistência e as 24 Horas de Le Mans com carros muito rápidos, mas pouco confiáveis. Na competição norte-americana da Can-Am, a Chaparral quis revolucionar o mundo com o 2J, um carro projetado por Jim Hall, mas devido a conflitos de interesse, o carro foi vetado. Hoje vamos falar do Chaparral 2J. Falaremos de sua tecnologia, de sua tentativa de inovação, de sua vida efêmera e de sua influência em outros veículos ao longo das décadas. Let’s go!
A CAN-AM. A COMPETIÇÃO SEM REGRAS
Antes de falar do nosso veículo em questão, devemos introduzir um pouco a categoria em que ele participava, a Can-Am. Era um campeonato norte-americano que merece no futuro um artigo exclusivo. Esta categoria, que durou de 1966 a 1974 e depois de 1977 a 1986, era organizada pelo SportsCar Club of America (SCCA). Era a categoria definitiva do automobilismo, no sentido de que havia uma liberdade de regulamento tão grande que os carros podiam chegar a ser em tempos por volta melhores que os monolugares de F1. De fato, esta categoria se popularizou pelo fato de que muitos pilotos da F1 da época, como Denny Hulme, Bruce McLaren ou John Surtees, levavam esta categoria tão a sério quanto a F1, chegando ao ponto de conciliar ambos os campeonatos em uma mesma temporada.
A Chaparral competiu neste evento desde sua temporada inaugural em 1966, mas sem se tornar uma ameaça real para os veículos “mamão” (papaya) da McLaren, conseguindo apenas uma vitória entre 1966 e 1969. Eles queriam mudar isso para a temporada de 1970, querendo revolucionar a categoria e o automobilismo em geral com sua nova arma, o 2J.
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
Na temporada de 1970 da SCCA Can-Am, a Chaparral aprendeu com seus erros com o 2H e criou o 2J. Estritamente falando em termos técnicos, o novo Chaparral 2J equipava um motor V8 de 7,6 L naturalmente aspirado, localizado na área central-traseira do veículo. Sua transmissão possuía apenas três velocidades e quase 700 CV de potência. Suas dimensões eram de 3.689 mm de comprimento, por 1.981 mm de largura, por apenas 964 mm de altura. O carro tinha um peso de apenas 821 kg e sua velocidade máxima era de 358,9 km/h (223 mph em unidades americanas). Mas tudo isso não era nada em comparação com a arma secreta que tornou este carro tão famoso quanto polêmico.
UM VENTILADOR PODEROSO, MAS EFÊMERO
Sua estrutura o tornou o primeiro carro com efeitos ativos no solo. O ar que passava pela carroceria enquanto estava em movimento era expelido por ventiladores colocados nas partes traseira e dianteira. Ao selar o espaço entre o corpo do veículo e o solo, era produzida uma grande força de sucção. Para acionar os ventiladores na parte traseira, ele tinha um motor de dois tempos de moto de neve refrigerado a ar, além de seu motor normal que já mencionamos. Tudo isso se traduzia na pista em um forte efeito solo que permitia ao carro fazer as curvas a uma velocidade maior em comparação com todos os rivais do grid.
Aproveitando as lacunas nas regras, o Chaparral 2J recebeu o apelido popular de «O Aspirador de Pó» e causou comoção entre fãs, equipes e pilotos. Além de seu aspecto radical, obteve resultados muito bons, enfrentando o McLaren M8D, o carro que, no papel, parecia imbatível e era o favorito ao título daquela temporada de 1970. No entanto, a SCCA recebeu queixas de outros participantes que desconfiavam desse avanço radical e proibiu a utilização de motores não destinados à condução pouco antes do início da temporada de 1971. Assim, o Chaparral 2J ficou guardado para sempre em uma garagem, durando apenas uma temporada.
Por causa dessa manobra dentro do regulamento do campeonato, a marca Chaparral perdeu o interesse pela SCCA Can-Am. Além disso, viram que seria impossível derrotar as sólidas máquinas da McLaren com designs convencionais e abandonaram a SCCA Can-Am e outras corridas por um tempo. No entanto, a tecnologia apresentada com um ventilador traseiro seria replicada tanto na realidade quanto na ficção.
BRABHAM BT46B E O RED BULL X2010. OS MONOLUGARES COM VENTILADORES INSPIRADOS NO CHAPARRAL 2J
O 2J não foi um caso isolado de veículos de corrida que usaram um ventilador traseiro para obter mais aderência nas curvas. Poucos anos depois, na F1, também se decidiu apostar neste tipo de tecnologia e causou a mesma polêmica e o mesmo final. Niki Lauda, com o Brabham BT46B projetado por Gordon Murray, venceu a primeira corrida da temporada de 1978, o Grande Prêmio da Suécia. A vitória foi tão esmagadora que aconteceu o mesmo que com o Chaparral 2J na Can-Am. As equipes se queixaram e a FIA ilegalizou o ventilador traseiro, obrigando a Brabham a correr com um design mais convencional.
Isso transcendeu as corridas e também chegou ao mundo do entretenimento. Adrian Newey, o atual designer da Aston Martin e por quase 20 anos designer da Red Bull na Fórmula 1, criou para o videogame de simulação de PlayStation 3, Gran Turismo 5, um monolugar de Fórmula 1 da Red Bull, apelidado de X2010. Este carro era, em essência, a criação do Fórmula 1 definitivo sem estar sujeito a nenhuma regulamentação, então o designer britânico se inspirou tanto no Chaparral 2J quanto no Brabham BT46B para colocar um ventilador traseiro neste Red Bull fictício.
Infelizmente, a Chaparral não é uma marca tão lembrada no automobilismo por seus resultados, mas sim por fazer um esforço titânico em querer inovar nas corridas com um certo tipo de tecnologia nunca antes vista, fazendo com que esta marca seja conhecida pelos fãs de automobilismo por suas curiosas contribuições e anedotas em torno delas, criando carros realmente únicos.
