Em 2005, ocorreu um dos maiores vexames da Fórmula 1 moderna. No Grande Prêmio dos Estados Unidos daquele ano, que era disputado na época no Road Course do Indianápolis Motor Speedway, todas as equipes equipadas com pneus Michelin, que eram 70% do grid, não puderam competir, deixando na pista apenas as que usavam pneus Bridgestone. Isso fez com que apenas seis carros largassem naquele dia. Por que isso aconteceu? Qual foi a raiz do problema? Que soluções foram propostas? O que acabou acontecendo e quais foram as consequências na F1? Responderemos a todas essas perguntas neste artigo. We start our engines!
O ACIDENTE DO TOYOTA DE RALF SCHUMACHER NOS TREINOS LIVRES. O PRELÚDIO DO FRACASSO
Quando o circuito de Indianápolis recebia corridas de Fórmula 1, ele utilizava como curva final o equivalente à primeira curva do oval da Indy 500. Após o acidente do Toyota de Ralf Schumacher naquele ponto durante os treinos livres de sexta-feira, a Michelin advertiu as sete equipes fornecidas por seus pneus (Renault, Williams, McLaren, BAR, Toyota, Sauber e Red Bull) de que não podiam garantir que os pneus aguentariam a corrida toda naquele circuito, já que naquele ano as trocas de pneus estavam proibidas e apenas se reabastecia nas paradas. Assim, houve reuniões de emergência da Michelin, das equipes e da FIA para tentar buscar soluções para o problema.
AS TENTATIVAS FRACASSADAS DE BUSCAR UMA SOLUÇÃO
Várias propostas foram apresentadas para tentar salvar o Grande Prêmio, mas todas foram rejeitadas. A Michelin propôs colocar uma chicane provisória com cones na última curva, mas a FIA rejeitou, considerando injusto para as equipes equipadas com pneus Bridgestone. Outra proposta foi a de fazer paradas nos boxes a cada 10 voltas. Mas também não avançou, pois era proibido pelo regulamento a troca de pneus. Outra opção era que a corrida não contasse para o campeonato, e que fosse uma prova não pontuável, sendo a Race of Champions de Brands Hatch em 1983 o último caso de uma corrida assim. Essa proposta também foi rejeitada. Chegou o dia da corrida, e não houve acordo sobre o que seria feito, então ocorreu o espetáculo mais vergonhoso até hoje na F1.
INDIANÁPOLIS. UM AUTORAMA EM TAMANHO REAL
Na classificação, a Toyota havia conquistado a primeira pole de sua história, com Jarno Trulli ocupando o primeiro lugar do grid de largada. No entanto, a Toyota não teve sequer a oportunidade de defendê-la. Após a volta de aquecimento, os 14 carros equipados com pneus Michelin entraram nos boxes e não largaram. O grid apresentava algo inédito na história. Apenas seis carros participaram da corrida: os dois Ferrari, os dois Jordan e os dois Minardi. Todos equipavam pneus Bridgestone e os dois últimos mencionados eram os piores do grid, aproveitando a oportunidade de suas vidas para pontuar pela última vez, já que ambas as equipes desapareceram após 2005.
Michael Schumacher venceu a corrida e Rubens Barrichello foi o segundo, sendo esta corrida a única vitória e dobradinha da Ferrari naquela temporada. Tiago Monteiro, como já citamos em outro artigo, foi o terceiro, dando a Portugal o primeiro pódio de sua história e o último para a equipe Jordan na F1.
CONSEQUÊNCIAS
Não foram poucas as consequências após este Grande Prêmio. A Michelin teve que compensar pagando 20.000 ingressos para o Grande Prêmio do ano seguinte, que pôde se desenvolver com total normalidade. Na Espanha, por exemplo, a Telecinco cortou a transmissão da corrida a partir da volta 25, alegando que as pessoas não iriam assistir a uma corrida de apenas seis carros, de modo que nunca foram transmitidas imagens, nem ao vivo nem em diferido, da prova a partir dessa volta. No âmbito estritamente esportivo, Michael Schumacher deu um salto qualitativo, colocando-se em terceiro lugar no Mundial de Pilotos, já que nenhum de seus rivais diretos participou da corrida. Houve uma consequência importante no Campeonato de Construtores, e é que a Ferrari alcançou no final da temporada o terceiro lugar à frente da Toyota. Se não tivesse obtido os 18 pontos deste «Grande Prêmio», os japoneses teriam ficado à frente dos de Maranello. Devido a isso, Indianápolis incorporou uma chicane permanente em sua curva 13 do traçado Road Course. O irônico é que a F1 nunca chegou a usá-la, ao deixar Indianápolis após 2007, embora tenha sido usada pela MotoGP e pela IndyCar.
Em suma, o GP dos Estados Unidos de 2005 é um bom exemplo de tudo o que não se deve fazer ao organizar um Grande Prêmio. Durante anos, acreditávamos que este foi o maior vexame da F1, mas o GP da Bélgica de 2021 o superou, embora isso seja história para outro artigo.




