Dentro das instalações do Museu do Caramulo (Portugal) esconde-se uma relíquia bastante desconhecida da indústria automobilística espanhola. Falamos de uma unidade do Abadal 25 CV. Um modelo de 1914, bastante peculiar e de uma marca não muito conhecida nem pelos espanhóis, nem pelos estrangeiros. Hoje, vamos dar voz à história de uma pessoa, uma marca e um modelo que passou muito despercebido: Abadal e o seu modelo 25 CV que pode ser contemplado no Museu do Caramulo. Começamos!
QUE MARCA É ABADAL E QUEM FOI O SEU FUNDADOR?
Antes de falar da criação desta marca, temos de conhecer a história do seu fundador. Francisco Paco Abadal foi um dos pioneiros da indústria automóvel em Espanha. Ganhou uma sólida reputação no setor ao tornar-se representante da marca Hispano-Suiza em Barcelona. Além de ser vendedor de veículos Hispano-Suiza em Barcelona, Abadal também era piloto de corridas. Em 1912, deixaria a Hispano-Suiza para iniciar o seu próprio projeto, o de criar o seu próprio fabricante de automóveis que levaria o seu apelido como nome, Abadal.

Esta nova empresa carecia da infraestrutura necessária para a fabricação de um automóvel completo. Daí ter tido de chegar a um acordo com a firma belga Imperia para o fornecimento de chassis. A cidade de Barcelona era o ponto de entrega desses chassis trazidos da Bélgica. Com a eclosão da I Guerra Mundial, ou a Grande Guerra para a imprensa da época, a produção de veículos da empresa Abadal sofreu um duro golpe. A companhia teve de se converter em importadora de veículos da marca americana Buick na tentativa desesperada de sobreviver. Pouco depois da guerra, Paco Abadal retomou a produção. Desta vez, criou um novo modelo denominado Abadal-Buick, embora este modelo já não fosse um desportivo como os anteriores. Em 1923, Paco Abadal tornou-se o distribuidor exclusivo para Espanha da General Motors. Na sequência desta aliança, a gigante norte-americana tinha projetado a fabricação de um protótipo chamado Abadal Continental para ser lançado em 1930, mas nunca chegou a ser lançado. A empresa acabou por ser dissolvida nesse mesmo ano.
UMA UNIDADE MUITO COMPETITIVA
A unidade que se conserva no Museu do Caramulo, com número de chassis 208, tem uma história bastante peculiar e muito ligada às corridas, mas primeiro falaremos das suas especificações. Este Abadal 25 CV, como o próprio nome indica, tem uma potência de 25 CV. Foi construído em 1914, dois anos após a fundação da empresa. O seu motor é de 4 cilindros e com uma cilindrada de 3.620 cc. A sua transmissão é manual com quatro velocidades, tem um peso de 1.495 Kg e atinge uma velocidade máxima de 115 km/h.

Um dos seus donos foi o Dr. Monteiro Mendonça, que ficou impressionado com o fato de este carro ter completado uma corrida que ia de Paris a Le Mans, a cidade que no futuro acolheria as famosas 24 horas, a uma velocidade média próxima dos 90 km/h, um número surpreendente para a época. Orgulhoso do seu currículo, Monteiro Mendonça preparou o carro para participar na Gincana do Estoril que se celebrou a 31 de outubro de 1914.

A 19 de outubro de 1935, o Dr. Mendonça decidiu guardar o carro na sua mansão da Rua Marquês da Fronteira, no topo do Parque Eduardo VII. Com isto, o carro ficou oculto e esquecido durante várias décadas. O dado seguinte conhecido sobre ele data de março de 1964, quando Joao de Lacerda recebeu o carro com a condição de que fosse reconstruído e exibido no Museu do Caramulo, a sua sede atual. Embora antes de acabar no museu, o Abadal 25 CV foi restaurado na oficina privada de Harry Rugeroni, na rua Tomás Ribeiro de Lisboa, com a inestimável ajuda do mecânico especialista Humberto Coelho.

Desde que foi restaurado, participou no Rally de Santo Tirso de 1966, bem como noutros eventos tanto nacionais como internacionais. Um dos exemplos de eventos fora de Portugal em que participou é o Rally Internacional de Vigo de 1977, que teve lugar no verão durante o mês de julho. Depois dessas participações, regressou ao museu, onde se encontra atualmente. O mais curioso da marca Abadal é o mistério que a rodeia. Até hoje, não se sabe ao certo quantas unidades a marca fabricou em toda a sua história, razão pela qual talvez não seja uma marca tão popular em Espanha em comparação com outras como Hispano-Suiza, Pegaso ou SEAT. Mas este detalhe é o que faz com que não haja nenhum outro modelo como o Abadal 25 CV que está exposto no Museu do Caramulo.




